sábado, 22 de novembro de 2014

MALABAVIDAS

Ao brincar com a gravidade, ele: "O malabares", faz como a criança a dança da liberdade. Pois ambos partem de voos curtos, pequenos passos. Seja uma laranja subindo ao espaço ou uma bola rolando o chão.

No balé do descompasso sempre há alguns tropeços, seja por pressa, seja por medo. O fato é que essa gravidade é um desacato e não entrega nada de bom grado, faz da criança e malabares aprendizes do erro.

Os pinos no ar e a criança no chão. A Arte e as artes!  Faz parte. E vai ficando mais bonito, o ritmo sobe e pés e mãos agora tem donos, são instrumentos da imaginação e já não buscam voos baixos, procuram a perfeição.

Um palco, um lugar ao sol, mesmo que poucos vejam, JAMAIS no farol. Pois o artista é uma criança e a criança é o artista, especialista no ramo de brincar com as esperanças. E merecem um bom espaço para apresentar seu show. Se não houver palanque, que se faça um picadeiro no coração de cada um que o amou.


Pai de Clarice





domingo, 16 de novembro de 2014

O trabalho infantil nas creches do Brasil


     Por mais um ano consecutivo a Prefeitura de São Paulo garantiu o atendimento ininterrupto nos CEIs (Centros de Educação Infantil), para crianças de zero a quatro anos que estejam regularmente matriculadas e cujos pais optarem pelo atendimento sequenciado (PORTARIA Nº 6.501/2014 DE 14/11/2014). Segundo o texto desta portaria estamos “considerando, ainda, que a mesma legislação e as normas reconhecem que muitas famílias podem necessitar de atendimento ininterrupto de suas crianças” desde que “essa demanda, quando comprovada, deve ser atendida”. Ou seja, as famílias que mediante algumas especificações se provarem trabalhadoras ou impossibilitadas de estar com seus filhos, podem sim, exigir que eles frequentem as creches públicas 12 meses por ano, sem férias.
     Observando esse quadro podemos fazer algumas analogias. Estive relendo alguns materias e lendo outros para subsidiar este texto e olha o que encontrei em um artigo do site mundoeducacao.com em relação ao trabalho infantil durante a revoluçao industrial (antes das leis trabalhistas burguesas): A vida nas cidades alterou completamente esse panorama das relações de trabalho familiares. Ao passar o dia nas fábricas, os pais perderam o convívio com seus filhos (...)  as crianças, além de perderem o contato com a natureza e se depararem com um cenário urbano que se diferenciava da paisagem natural das zonas rurais, também foram atingidas pelas transformações nas relações de trabalho”.
     Cenário parecido ao atual e se levarmos em consideração que neste período as crianças passavam os dias nas fábricas, ocupadas em afazeres considerados menos importantes (não menos perigosos) e hoje passam os dias em instituições de ensino, a história não é muito diferente, nossa relação com as crianças seguem sendo regidas pelos interesses do mercado. Porém, naquele período não existiam duas instituições que hoje deveriam reger a nossa relação com as crianças e o trabalho. A primeira é a noção e o conhecimento de infância que temos hoje, a segunda são as leis que regem o trabalho, que deveriam garantir um mínimo convívio familiar para pais e filhos.
     Observar esse cenário pela ótica das crianças chega a ser cruel. Uma vez que a média diária de um aluno na escola de educação infantil (creche) é de dez horas diárias (das sete as dezessete) de segunda a sexta feira, isso resulta numa jornada semanal de cinquenta horas, enquanto um trabalhador sob as leis do ministério do trabalho é de no máximo oito horas diárias mais quatro adicionais, ou seja, quarenta e quatro horas semanais. Também é garantido aos trabalhadores o direito a férias remuneradas, décimo terceiro salário, vale alimentação e horário de almoço, entre outros. Sabemos que na pratica alguns desses direitos se perdem, mas há um estatuto de proteção ao menos.
     Então a questão que grita é “Quais são os direitos das crianças que frequentam creches?”, existe grande abismo entre os pequenos enfurnados nas carvoarias ou pedreiras e aquelas submetidas a regimes diários em instituições governamentais doze meses por ano? Aqueles que convivem com a rotina diária percebem o stress e angustias que afligem bebês e crianças, pois por melhores preparados e intencionados que estejam professores e unidades escolares, a ausência crescente do convívio familiar abre uma lacuna de afetividade que interfere diretamente na formação destas subjetividades. A instituição não é o lar, não tem potencial familiar e muito menos o aconchego dos responsáveis, da família, seja esta como for.
     Enfim, demos mais um passo atrás em relação a nossa infância, observando que esta Portaria do município de São Paulo não está na contramão da tendência atual, pelo contrário, segue a lógica da regressão da educação infantil para serviço social. Poderíamos estar pensando em formas de garantir que pais e filhos compartilhassem períodos concomitantes de descanso, mas preferimos repetir nossos erros históricos. Uma pena, pois hoje eles perderam suas férias, amanha perdem os feriados, os finais de semana, e sabe se mais o que. Esta é a rotina dessas crianças com jornada de trabalhadores sem direitos, sem voz para se defenderem e sem direitos constitucionais... Que frutos essa geração de filhos do estado nos dará?

Pai de Clarice



sábado, 25 de outubro de 2014

QUE CADA UM VOTE COM SUA HISTÓRIA DE VIDA


     Amanha é o dia da eleição mais “cornetada” dos últimos tempos em terras tupiniquins, isso tudo graças às redes sociais que se democratizaram e estão nas casas de muitos brasileiros. Percebo  entre meus amigos quais muitos diziam odiar a política, que hoje posicionam, se expõe e alguns até arriscam colocações especialistas com comentários abalizados por personalidades e etc. Mas não estou aqui para fazer criticas ou elogios aos meus convivas, mas sim, para deixar minha opinião sobre o que pode levar cada um a decidir o seu voto.

     Como já falei no titulo deste texto creio que cada indivíduo vota com a sua história de vida, pois apesar do Brasil ter levado mais de quinhentos anos para se configurar como hoje está e de não podermos reduzir seus fracassos e sucessos aos últimos vinte anos (PSDB/PT) é impossível desvincular aquilo que vivemos em nossos dias recentes na escolha nas urnas de amanha.

     Então vou falar um pouco da minha história partícula e nuclear, que envolve alguns de meus parentes, amigos e vizinhos. E entendam, explicar meu voto não significa que este seja um texto de militância:

 “Pois bem, em 2001 terminei os meus estudos no colégio estadual  Apparecida Rahal, naquele momento universidade não era um objeto muito plausível para pessoas na minha condição financeira, mesmo assim arrisquei-me a fazer algumas pesquisas. Fui até a Unicastelo (a mais acessível e próximo a minha residência), estava interessado em biologia, mas quando recebi o folder,minhas poucas esperanças desceram ralo abaixo. O preço era algo em torno de R$ 380,00 a mensalidade, já o meu salário de trabalhador informal (pois era assim que muitos jovens ingressavam no mercado de trabalho nestes tempos) era dez reais acima do mínimo quase R$ 180,00. A outra opção era a universidade pública, mas sabemos das condições desleais que um jovem formado nas escolas estaduais sofre para competir com os alunos dos grandes colégios particulares, reforçados por Anglos e Objetivos.

Fora isso, as condições na minha família também não eram das melhores, em casa éramos seis, meu pai, minha mãe e três irmãs mais velhas. Neste período, das minhas três irmãs, duas estavam desempregadas e quando arranjavam algo era geralmente temporário. Meu pai sustentava a casa com seu salário baixo e possuía um carro de 1984. Se a economia estava estável por um lado, com baixa inflação, por outro o nosso poder de compra era irrisório, bolacha, frios, danones e chocolates, esquece! A dispensa nunca ficou vazia graças a meu pai que sempre prezou por não faltar nada do básico (coisa de orgulho nordestino), mas de resto era um sufoco.

Pois assim tocamos a vida nestes tempos difíceis e tivemos de esperar dias melhores, não sei se pra você que lê estes dias chegaram, mas para minha família vieram. Em 2009 consegui em fim ingressar na universidade, a mesma Unicastelo que procurei anos atrás, só que agora eu tinha uma avaliação do Prouni e um salário acima de uma mensalidade escolar,  pagando metade do preço, não foi fácil, mas me tornei pedagogo. Porém, o mais legal para mim não foi essa conquista e sim ver ano passado o meu sobrinho de dezessete terminar o ensino médio e ingressar direto na universidade, sem essa demora e perda de tempo que eu e minhas irmãs tivemos (as três hoje estão cursando).

Seria egoísmo demais olhar somente fechado para o nosso umbigo, mas tenho vizinhos que partilharam na mesma situação a mesma condição e hoje alguns são engenheiros, outros nutricionistas e etc. Andam de carro zero, comem o que tem vontade, pagam sua casa ou apartamento como eu (tive subsidio federal para isto), e por ai vai.”

     Esse relato é um pouco das coisas que vi e vivi nestes últimos anos, percebo que nem tudo foram flores e merecíamos estar tendo um segundo turno amanha muito mais interessante do que se configurou. Mas, entre as opções que sobraram, jamais poderia ir contra a minha história, estarei com o PT e Dilma, mesmo com ressalvas e observações. Poderia ficar horas e inúmeras linhas falando das diferenças que encontro na minha vida de pobre hoje e a de pobre de quinze anos atrás, mas não tenho todo esse direito de lhes roubar tanto tempo assim. Também poderia falar como professor e a forma que o PSDB desrespeita e agride a nossa categoria, etc.

     Em suma, escrevi este texto para dizer que ficarei muito feliz se a minha convicção se confirmar com mais de cinquenta por cento das urnas amanha, porém o motivo maior é dizer que caso isso não aconteça eu respeitarei a democracia e não lançarei mão de criticas aqueles que não concordaram comigo, nem ficarei juntando pedras para tacar-lhes ao primeiro erro do seu candidato. Porém, peço o mesmo respeito aos meus adversários de urna, respeitem a história de cada um  caso seu voto não esteja do lado vencedor, se isso acontecer é por que talvez a sua história e sua opinião não são compatíveis com a historia e opinião daqueles que votaram do outro lado.

                                                                                                             
Um abraço!
Pai de Clarice