quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Promoção de morrer!

Esses dias, enquanto digitava uma ruma de documentos, acabei escutando “meio que despretensiosamente” a conversa de alguns companheiros de trabalho com um desses vendedores que visitam periodicamente as repartições públicas, em busca, é claro, de ofertar seus produtos. Mas, algo que me chamou muita atenção dessa vez foi o artigo da venda: Planos funerários.
O vendedor em questão usava de diversos argumentos, que qualquer ouvido desatento acharia maravilhoso, benefícios e bônus pra encher os olhos e gelar o estomago. Cito alguns exemplos: Cobertura parcial para morte de pais, filhos e cônjuges; apólice para morte acidental ou repentina; cobertura total das despesas funerárias do portador; abono por invalidez e até um seguro chaveiro... Seria pra garantir a abertura das portas do céu?
 A investida do “comensal da morte” seguiu por alguns minutos e percebi que alguns dos meus pares se renderam aos benefícios da morte feliz, outros por sua vez já haviam assegurado seu descanso em paz anteriormente, com outra empresa.
Aos poucos fui vagueando e me perguntando: - Em que momento nos perdemos no labirinto de acreditarmos que a vida deve ser um grande mapa, onde nós haveremos  de indicar todos os fatos e, aquilo que não for evitável, nos calçarmos, para que as arestas de nossa existência, não arranhem o nosso entorno?
Que triste viver em um tempo em que o filho, ou o esposo, ou pai, tem garantido a segurança da sua morte, de sua mãe, esposa e até filhos.
Criamos a expectativa de poder resolver todos os problemas, superproteções egocêntricas que nos dá uma personalidade estranha e até cruel, pois ao tempo em que acreditamos preparar fisicamente toda uma situação prática, nos esquecemos do plano espiritual, o imponderável!
Até onde podemos medir a dor de uma perda? Mesmo que a nossa? Sem querer ser piegas, mas, acho que a melhor segurança que podemos dar aqueles que nos cercam é fazer “planos de vida”, de felicidades e bem estar, tentar ensinar e deixar legados na alma. A partida, que sabemos ser inevitável, se encontra na casa do mistério e é bom que lá fique até o seu momento.
Meus pensamentos foram interrompidos pela voz grave do revendedor, que me fitava com cara de comerciante de doces: - E aí, vamos fazer?

P.H. de Jesus Santos


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