No estado êxtase que ando
ultimamente, somente as coisas absurdas consegue abduzir-me para momentos de
realidade. Ou algo me chama atenção por ser extremamente bom, ou ruim. Infelizmente,
acompanhei uma entrevista de certo “empresário/apresentador/cantor” em um programa
vespertino recheada de receitas para a vida conjugal, sobretudo para um
casamento feliz.
Dentre as grandes ideias
apresentadas pelo cidadão em questão, uma me chamou muita atenção. Defendia ele
que a intimidade e individualidade são pontos vitais da vida a dois e que o
ideal seria que todo o casal tivesse um toalete individual, isso mesmo, um
banheiro para o homem e um para a mulher, segundo ele, esse detalhe garante a
privacidade e mantém certa imagem intacta do outro.
Devo dizer que os argumentos que
ele utilizava tinham como base principal o individualismo, a premissa de que a
divisão das coisas e dos espaços são destrutivos. Na verdade até a descoberta
do outro como ser humano, dotado de defeitos, qualidades, necessidades e
sentidos, são fatores de desencanto e rompimentos.
Ao ouvir tais “conselhos” me
lancei ao Google e constatei que segundo dados do IBGE 2012 nas áreas urbanas do
país entre 20% a 25% da população não recebe serviços de saneamento básico
(contando agua encanada e esgoto tratado), enquanto nas áreas rurais menos de
30%. O que me leva a crer que uma simples latrina já pode ser vista como artigo
de luxo para mais da metade da população brasileira. Será então o fim das uniões?
Chega a ser cômico. Pois quanto
mais formulas e requintes propõem para a nossa vida, mais conseguem complicá-la.
Viemos de uma cultura coletivista, criada justamente pela necessidade do
mutuo-auxilio, nossa própria existência depende daquele grupo que nos cerca e
isso inclui esposa (o) e filhos, pais, amigos, etc.
A pergunta que perseguiu meus
pensamentos o resto da tarde foi a seguinte, será mesmo que é preciso abrir
distancia do outro para se aproximar dele? Parece-me um paradoxo. Prefiro
acreditar que existem coisas mais essencial em um relacionamento, como cuidado
e reciproca, o cultivo do amor por aquele outro, que reconhecidamente se mostra
humano para nós. Sinceramente: Eu divido o meu banheiro!
Pai de Clarice