Esses
dias, enquanto digitava uma ruma de documentos, acabei escutando “meio que
despretensiosamente” a conversa de alguns companheiros de trabalho com um desses
vendedores que visitam periodicamente as repartições públicas, em busca, é
claro, de ofertar seus produtos. Mas, algo que me chamou muita atenção dessa
vez foi o artigo da venda: Planos funerários.
O
vendedor em questão usava de diversos argumentos, que qualquer ouvido desatento
acharia maravilhoso, benefícios e bônus pra encher os olhos e gelar o estomago.
Cito alguns exemplos: Cobertura parcial para morte de pais, filhos e cônjuges;
apólice para morte acidental ou repentina; cobertura total das despesas
funerárias do portador; abono por invalidez e até um seguro chaveiro... Seria
pra garantir a abertura das portas do céu?
A investida do “comensal da morte” seguiu por
alguns minutos e percebi que alguns dos meus pares se renderam aos benefícios
da morte feliz, outros por sua vez já haviam assegurado seu descanso em paz
anteriormente, com outra empresa.
Aos
poucos fui vagueando e me perguntando: - Em que momento nos perdemos no
labirinto de acreditarmos que a vida deve ser um grande mapa, onde nós
haveremos de indicar todos os fatos e,
aquilo que não for evitável, nos calçarmos, para que as arestas de nossa
existência, não arranhem o nosso entorno?
Que
triste viver em um tempo em que o filho, ou o esposo, ou pai, tem garantido a
segurança da sua morte, de sua mãe, esposa e até filhos.
Criamos
a expectativa de poder resolver todos os problemas, superproteções egocêntricas
que nos dá uma personalidade estranha e até cruel, pois ao tempo em que
acreditamos preparar fisicamente toda uma situação prática, nos esquecemos do
plano espiritual, o imponderável!
Até onde podemos medir a dor de uma
perda? Mesmo que a nossa? Sem querer ser piegas, mas, acho que a melhor
segurança que podemos dar aqueles que nos cercam é fazer “planos de vida”, de
felicidades e bem estar, tentar ensinar e deixar legados na alma. A partida,
que sabemos ser inevitável, se encontra na casa do mistério e é bom que lá
fique até o seu momento.
Meus pensamentos foram interrompidos
pela voz grave do revendedor, que me fitava com cara de comerciante de doces: -
E aí, vamos fazer?
P.H. de Jesus Santos